Uma questão de cor
Desde que vi uma reportagem sobre a deusa da melanina Khoudia Diop, eu fiquei com muito desejo de ter uma pele com muita melanina no Second life. Demorou 3 anos para eu encontrar uma pele que me agradasse bastante. Finalmente eu encontrei. Mas isso me levou a problematizar aspectos importantes no SL (por que na rl eu já problematizo demais: o que nos tornaria negros no Second Life?
O Second life é um mundo liquido. Isso quer dizer que as coisas são inconstantes, as informações são muitas e nos atropelam muito antes de podermos nos acostumar com as coisas que conheciam anteriormente. Podemos ser o que quisermos. Mas, dentro de tantas questões que fazem a aparência não ser fixa, é realmente a pele a condição condição sine qua non para nos enquadrarmos pessoas negras?
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Cada dia que passa eu tenho acreditado que, no país de onde falo, a pele negra é o que acaba send o grande marcador da negritude. Isso acompanha outros características fenotípicas, como os lábios carnudos, nariz largo, quadril largo e corpo grande. Mas se tantos homens e mulheres negras e negros fogem desse padrão pré-definido, o que elas seriam?
Para as pessoas que nunca escutaram falar, existe uma possibilidade de análise chamada colorismo "O colorismo* ou a pigmentocracia é a discriminação pela cor da pele e é muito comum em países que sofreram a colonização europeia e em países pós-escravocratas. De uma maneira simplificada, o termo quer dizer que, quanto mais pigmentada uma pessoa, mais exclusão e discriminação essa pessoa irá sofrer." É um conceito de fácil compreensão. Quanto mais escura for a sua pele maior será a discriminação que você sofrerá ao longo de sua vida.
Quando paramos para pensar no Brasil, precisamos pensar que a colonização tem frutos muito perversos, entre ele: O genocídio que a população negra, indígena e não branca sofreu (e ainda sofre) e o conceito de quanto mais branco, melhor.
Acho que não precisamos adentrar muito mais na história para entender o quanto pessoas de pele branca são privilegiadas nesse pretenso país da miscigenação racial. Uma miscigenação, aliás, iniciada através de estupros de tantas mulheres.
Posteriormente, ser branco ou ter a pele mais clara significou ascensão social. Não significa que você tenha mais dinheiro, mas que você será mais acolhido pela sociedade.
Nesse contexto tenebroso (eu ainda evito falar essa palavra) me pareceu extremamente improvável encontrar uma pela tão escuta quanto a de Khoudia Diop. O second Life é feito por pessoas e, bem, me parece que as pessoas preferem ser loiras, ruivas, morenas. E a negritude seria um tempero exótico na vida - categorizada, enquadrada e posta no canto para momentos específicos e poucas pessoas.
Felizmente algumas coisas mudam (não tudo) e há pessoas no mundo que eu chamo de "pontos negros em telas brancas". A analogia é a seguinte: uma tela que será pintada, ela está branca. Contudo, podemos dizer que ela também é um monte de pontinhos brancos juntos, como pixels. Imagine agora que esses pontos agora são pessoas brancas, nas sua mais diversas expressões de branquetudes. Agora pingue um único ponto negro na tela. Essa é um avatar negro que você conhece no SL. Agora façamos o desafio - Se você tivesse uma tela e cada pingo negro fosse um avatar negro que você conhecesse, quantos pingos essa tela teria? Você conhece mais pessoas rl negras ou avatares negros? No meu caso, especificamente, eu convivo com mais pessoas negras na rl que no SL. E claro, no SL você pode ser o que quiser baby, mas vale a pena se perguntar por que tantas pessoas negras fazem avatares brancos. Eu tenho minha resposta, mas isso vai ficar para um próximo texto.
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